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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Entendendo o Grafeno, substituto do Silício

Brasileiro é autor do mais recente trabalho sobre o grafeno, o material mais forte e impermeável do mundo que, como se não bastasse, possui velocidade de condução dezenas de vezes maior do que o silício.
Esse número incrível foi observado pelo Dr. Daniel Elias em um trabalho publicado na Nature Physics. O dado só confirmou o que a indústria da computação já sabia: o grafeno é o futuro da tecnologia.
Descrito na década de 40, o material só foi realmente obtido pela primeira vez em 2004 por uma dupla trabalhando na Universidade de Manchester. Andre Geim e Konstantin Novoselov ganharam o prêmio Nobel de Física em 2010 por terem obtido uma camada única de átomos de carbono, arranjados em hexágonos, como em colmeias de abelha – o grafeno.
Foi justamente para trabalhar ao lado de Geim que o brasileiro Elias, de 33 anos, deixou a Universidade Federal de Minas Gerais. A pesquisa recém-publicada é um dos resultados de seu pós-doutorado – um trabalho que conta com a participação dos dois prêmio Nobel. Da Inglaterra, ele falou à INFO Online.
INFO Online - Quais as propriedades do grafeno?
Daniel Elias - Em 2004, quando fizeram a descrição experimental do grafeno e suas propriedades eletrônicas, viu-se algo excepcional. Ele tem alta mobilidade a temperatura ambiente (tempo que o elétron navega sem colidir com nada), o que é muito difícil, pois a maioria dos materiais perde mobilidade quando aumentamos a temperatura. Ele é o material mais impermeável do mundo, capaz de segurar até mesmo o Hélio, um átomo dificílimo por ser pequeno e leve, e também é o mais forte do mundo. Dentro das suas proporções, é mais forte que diamante. Nele, a velocidade dos elétrons também é altíssima: no primeiro estudo, foi de 1000 km/s, o que é cerca de 60 vezes melhor do que o silício. Neste novo trabalho, observamos que essa velocidade pode triplicar – chegar a três mil quilômetros por segundo. Mas para ter essa velocidade, é preciso uma qualidade de cristal muito boa.
- Como são feitas essas amostras?
Para obtê-la, precisamos usar a técnica da fita adesiva, que garante os melhores cristais. A fabricação começa com cristais de grafite de boa qualidade. Você coloca um pedacinho em uma fita adesiva e vai dobrando a fita e esfoliando o grafite – que, na verdade, é composto por camadas de grafeno. Isso é feito até que se obtenha uma camada de carbono de apenas um átomo de espessura. Essa foi a técnica original, descrita em 2004 – mas embora garanta os melhores cristais de grafeno, ela é industrialmente inviável... Pelo menos por enquanto.
- Então as empresas de olho nessa tecnologia?
Sim. Todas as empresas de eletrônica estão investindo no grafeno. Em dois anos nós já teremos telas sensíveis ao toque produzidas com ele. O grafeno tem potencial de aumentar incrivelmente a velocidade dos computadores. O silício está chegando ao seu limite e precisará ser substituído por outro material – então, por que não o grafeno? É claro que ainda existem problemas que terão que ser resolvidos nessa substituição.
- Quais, por exemplo?
O principal é a maneira que os transistores funcionam hoje: eles precisam de um gap de energia no silício, uma situação na qual ele conduz e não conduz. E o grafeno não tem gap – então alguma coisa precisa ser mudada, ou no grafeno, ou no funcionamento do transistor. Se conseguirem, vai ser um salto histórico.
-E o Brasil, está avançado nas pesquisas com grafeno?
O país tem crescido bastante nessas áreas – vejo pelas pesquisas da própria UFMG. Além disso, um dos maiores pesquisadores de grafeno do mundo, o dr. Antonio Castro Neto, é brasileiro (formado pela Unicamp e professor da Universidade de Boston).
- E como você foi parar em Manchester?
- Comecei na UFMG, tentando reproduzir as ideias do 1º artigo sobre grafeno. O meu doutorado era com a bolsa sanduíche do CNPQ (que permite fazer uma parte das pesquisas fora do Brasil). Meus orientadores de mestrado e doutorado conheciam o Andre Geim. Em 2006, ele me aceitou como pesquisador e, depois de concluir meu doutorado, fui convidado a voltar e trabalhar com eles, fazendo meu pós-doutorado. Meu contrato dura mais um ano.

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